sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

5.1 - O Jongo

Incontestavelmente, esta foi/é a dança mais conhecida e praticada por toda Baixada Campista, como herança forte dos escravos. O Jongo era a diversão dos fins de semana, nos rituais das festas lúdicas e considerado a paixão de qualquer família de afro-descendente da região. Em quase todas as usinas, ou no que restou delas e, hoje, na periferia da cidade de Campos, encontram-se, ainda, mas não com facilidade, resquícios de jongueiros, na sua maioria pessoas negras que trabalharam durante muitos anos em alguma atividade relacionada à cana-de-açúcar e ao trato com o gado de corte e leite.
Procurando por dados sobre o “Jongo”, na Biblioteca Municipal de Campos, foram encontradas apenas algumas publicações de jornais, já gastas pelo tempo e empoeirada pela memória quase esquecida da dança. Seguem alguns dados encontrados, sem outras referências:

“Antônio Pinto Miranda diz que Jongo na Angola se chama Djongô e é dança e ritual de tribos angolanas dedicadas exclusivamente ao pastoreio. “O jongo é um ritual macumbal, sub-tribo dos bantos, ocupando a zona semidesértica de toda cordilheira Chela. A maneira de dançar eles usam nas festas e nos lazeres. A este ritual damos o nome de Djongô, que seria nosso Jongo, com suas variações e adaptações”.

Ele acrescenta, ainda, que o Jongo em Angola é sempre dançado cultuando o boi, que para algumas tribos é quase sagrado. O boi deixou de ser um animal para o comércio e passou a ser a imagem principal dos seus cantos, contos, lendas e músicas. Talvez conservando essa tradição angolana, também se encontra em Campos vários pontos que se fala sobre o boi
16:

“Encontrei meu Santo Antônio
Na cancela do currá
Levanta meu Santo Antônio,
Deixa meu gado passá”.

De acordo com o escritor Osório Peixoto Silva, para os campistas Jongo é dança praticada em terreiro de chão batido, com um ou dois tambores - cavados em pau ôco - e acompanhado por palmas. Forma-se o círculo dos dançadores, um deles entra no círculo, conta sua história em monólogo ou palavras estranhas, sempre procurando o ponto que soltará e que caberá no ritmo.
Há, ainda, o Jongo, com ligações religiosas, geralmente com a umbanda, mas igualmente com os pontos repetidos pelos dançadores, a partir do cântico do ogã. E quando o ponto é bom pode ser cantado por muito tempo nos terreiros. Como este que se segue:

“Toda vez que caio
Caio diferente,
Ameaço pra trás
Mas caio pra frente”.

16 A melhor pesquisa sobre a relação do boi com as diferentes civilizações, incluindo sua magia enquanto ludicidade na planície goytacaz, está na dissertação do professor Orávio de Campos Soares (“Muata Calombo – Consciência e Destruição”), UFRJ, Rio de Janeiro, 2002. Ele faz uma ligação entre o Boi Bento português e o muata das tribos africanas para explicar sua presença e importância cultural no Brasil.

Um comentário:

Beatriz Vihemba disse...

Foi tão bom encontrar essa informação na net, desta minha terra que mal conheço. O meu nome é Beatriz Pinto de Miranda, filha de António Pinto de Miranda. Aí só vivi os primeiros dois anos de minha existência, ainda assim, e porque para mim é importante conhecer as minhas origens, agradeço a todos as pesquesas que foram feitas, e insentivo para que não parem de o fazer.Obrigada