sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

5.3 - Folia de Reis

A Folia de Reis ainda está presente na memória da Baixada Campista. Ela deu entrada da dança no Brasil em 1534 e é desenvolvida, até hoje, entre os dias 25 de dezembro e seis de janeiro. É uma representação dos Reis Magos ao Menino Jesus. A Folia é liderada pelo mestre e contra-mestre. Os dois palhaços representam os soldados, chefes da guarda de Herodes. Depois que os três Reis Magos estiveram com Herodes, indagando-o onde estava o Menino Jesus. Porém, ao encontrarem o recém-nascido, os guardas se comoveram e passaram a cuidar do Menino, segundo retrata a Bandeira de Santos Reis.
Os grupos visitam as casas, cantam e dançam. O ritmo é dado pela viola, cavaquinho, sanfona, pandeiro, bumbo e caixa, acompanhados do improviso nas letras das canções, que são sempre em homenagem aos donos da casa.
O escritor Álano Barcelos, em seu livro “A Linguagem da Baixada Goitacá”
18, conta que uma vez em férias com a família, no ano de 1991, na praia de Farol de São Tomé, recebeu a visita de foliões. Impressionado com os dizeres do grupo anotou duas quadras, uma delas falava sobre um velho problema da comunidade campista com a empresa estatal Petrobrás, na época o gás canalizado para as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, nada deixava para os campistas e suas indústrias. Os versos diziam:

“Seu Presidente Fernando,
Diga aqui pra esse rapaz:
Vão continuá abusando?
Pra onde vai o nosso gás?”

“Sinhora dona de casa,
Abra a porta, acenda a luz
Viemo cantá reis
Pelas chaga de Jesus”

Terminada a apresentação, os foliões eram convidados para entrar na casa e se servirem de comidas e bebidas. As danças aconteciam na maioria das vezes durante a noite, o que motiva os versos que falam da noite.
No dia 22 de agosto de 2003, um grupo de historiadores da Fundação Cultural Oswaldo Lima tentou resgatar a cultura da Folia de Reis na cidade de Campos, num evento realizado na Casa de Cultura Vila Maria. Seis grupos vindos do Estado do Espírito Santo apresentaram suas danças mostrando ao público a história da Folia.
De acordo com a historiadora Sylvia Paes, o objetivo da reunião foi resgatar os grupos de Folia de Reis da cidade. “Fizemos um levantamento e constatamos que existiam grupos nos bairros da Penha, Capão, Calabouço e Cidade Luz. Hoje, a tradição acabou e na cidade não há nenhum grupo formado”.
No evento, dois antigos mestres de folias da cidade estiveram presentes: “Seu” José Alves, 67 anos e Manuel Lemos, 79. Com saudades dos velhos tempos eles se animaram a tentar formar um grupo. Mas, de acordo com ambos, as dificuldades são grandes.
José é morador do bairro da Penha, em Campos. Sempre se dedicou à cultura da dança e por vezes apresentava com seu grupo em cidades próximas. A dança dentro da sua família era tradição, seu pai fazia questão de ensinar para todos os filhos.

“Eu sinto muita falta de como era bom aquele tempo. Meus companheiros já morreram e os que ficaram não dá (sic) para montar uma folia completa. Mas ainda tenho fé em meu Deus que, um dia, vou voltar a ter minha folia”.

Outro remanescente da dança, Manuel Lemos, diz que há mais de 10 anos não sabe o que é fazer folia. Ele atribui o esquecimento da dança à criminalidade que aumentou nos últimos tempos e, aí, as pessoas não abrem a porta de suas casas com tanta facilidade. Aquela proximidade do interior acabou.

“Não temos mais quantidade de pessoas. São necessários 12 homens, pois representam os apóstolos, mas até com seis dá para fazer. As dificuldades para montar o grupo são muitas. Algumas pessoas não querem participar porque temem assaltos e ninguém abre a casa para nos receber como antes”.

Depois das pesquisas na periferia e na Baixada Campista não foi constatada nenhuma presença da Folia de Reis no município. Foram encontradas apenas pessoas que participaram, lembrando algumas cantigas, antigos mestres e músicos. Nenhum grupo formado foi encontrado em todo trabalho
19.
18 O professor Alano, que foi Senador da República, hoje aposentado, editou pela Lucerna, Rio de Janeiro, 1992. Foi ele também, professor e vice-diretor da Fafic.
19 A última Folia de Reis de Campos foi a de “seu” Manoel do Calabouço. Seu filho, mestre André, da bateria do Bloco de Samba Unidos do Calabouço (também extinta), não seguiu os seus passos e a folia acabou morrendo com o seu criador.

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