quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

16.5 - Relatório da 5ª Expedição à Baixada Campista

Aos 16 de agosto de 2003, sábado, às 7 horas e 30 minutos, os alunos do Curso de Comunicação Social, envolvidos no Projeto do Mestre e Professor Orávio de Campos Soares, cujo título está descrito acima, realizaram a quinta excursão através da Baixada Campista com os mesmos objetivos das viagens anteriores, ou seja, o de procurar e encontrar informações a respeito das principais danças folclóricas que existiram na Baixada Campista, e também, o de fazer um levantamento histórico da ligação das usinas açucareiras com as igrejas de cada lugar, além de filmagens dos destroços das usinas da Baixada, que encontram-se abandonadas.
Nesta quinta expedição, o grupo seguiu para a Baixada com Priscila da Silva Gonçalves, Paulo de Almeida Ourives, Andresa Alcoforado, Michelle Barros dos Santos, Raquel Correia de Freitas, Marco Antônio Lourenço, e o cinegrafista Osiel Azevedo.
Pelo que havia sido combinado logo na saída, o grupo iria passar por Poço Gordo, Saturnino Braga, onde obteria dados sobre a Igreja de Sant’Ana, que havia sido fundada pela finada Finazinha Queiroz, além disso, os estudantes também iriam realizar incursões em Baixa Grande, Santo Amaro e Farol de São Tomé. Como já havia descrito acima, em cada uma das localidades da Baixada, o grupo além de obter subsídios para a pesquisa das tradicionais danças folclóricas da Baixada, iria fazer um levantamento histórico e econômico de cada uma das usinas, bem como da ligação das usinas com as Igrejas de cada um dos distritos.

A VIAGEM

Inicialmente o grupo foi até Baixa Grande, e soube através do Padre Gilberto, que a Paróquia de Nossa Senhora das Graças, foi construída em 1949, com a ajuda dos funcionários da Usina Baixa Grande, que doavam parte dos seus salários, que por sua vez, eram descontados em folha de pagamento da Usina. Segundo o Padre Gilberto, a sede da Paróquia era no Mosteiro de São Bento, que fora construído por frades beneditinos, e o espaço onde se localiza a paróquia fora doado por estes mesmos frades.
Mas somente no ano passado, 2002, é que a sede da paróquia foi para onde é hoje a capela. As imagens que lá se encontram ainda são do tempo da inauguração, mas como a capela passara por reformas, a nave principal da igreja fora toda modificada em relação à construção original, hoje a igreja já não possui alguns altares, tanto o principal como dois outros altares menores que ficavam localizados à esquerda e à direita do altar principal, mas um pouco mais à frente.
Em sua entrevista, o padre Gilberto indicou que conversássemos com Milton Roberto da Silva Campista, administrador da Usina Baixa Grande. Ele reside na rua Nossa Senhora das Graças, uma rua lateral a Paróquia.
Ao entrar nesta rua, eu, Paulo de Almeida Ourives, pude perceber que há um número de aproximadamente sete ou oito casas com o mesmo desenho de planta, e que em cada uma delas há no alto uma imagem de um santo. Entre os diversos santos, vi o de São Jorge, Santo Amaro, Jesus Cristo e Sagrado Coração de Jesus, entre outros.
Nesta mesma rua, tivemos contato com o Sr. Amaro Ribeiro Filho, que é morador de Baixa Grande há muito tempo, mas não soube nos informar muita coisa a respeito da Usina e da Paróquia. O Sr. Norival disse que trabalhou na Usina por 36 anos.
Já o administrador da Usina, Milton Roberto da Silva Campista, 41, revelou que a Usina não faliu, ela apenas fechou em virtude de uma crise financeira gerado com os inúmeros pacotes do governo federal na década de 90. E que os destroços da Usina, estão sendo vendidos para pagar os inúmeros processos trabalhistas que correm nas duas Varas do Trabalho, existentes em Campos. Além disso, ele ainda revelou que há um outro processo que corre contra a invasão do MST, ocorrida em 1998, e que acabou culminando com a destruição da plantação de cana-de-açúcar em uma das fazendas ocupadas. Que a receita estimada na colheita iria ajudar a pagar as dívidas trabalhistas e que estas estavam sendo pagas aos poucos com os recursos provenientes do desmanche das máquinas das usinas.
Ele teceu considerações a respeito do ex-proprietário da Usina, o Sr. Fernando de La Riva, e que ele hoje encontra-se residindo na casa de sua sogra em Copacabana, no Rio de Janeiro, mas que possivelmente vem passando por dificuldades financeiras, provenientes dos inúmeros processos trabalhistas.
O administrador da Usina, ainda revelou que a inscrição NLC 1960, gravada no alto de sua residência é simplesmente as iniciais do nome do seu pai, e a data de construção da casa, 1960. Ele ainda nos contou que em Baixa Grande, há um colégio estadual cujo nome: Dr. Barros Barreto, é o nome do ex-dono da Usina Baixa Grande.
Como a entrevista com o administrador da Usina, durou quase toda a manhã, o grupo então resolveu ir direto para o Farol de São Tomé, almoçar e procurar por D. Teresa, que é rezadeira e pelo pai do cantar Zazal.
Depois de estarmos satisfeitos com o almoço, realizado no Farol, fomos para a localidade conhecida como Xexé, procurar pela D. Terezinha Silva Santos, 67, que é rezadeira. Em suas palavras iniciais, bem antes de começar o trabalho de reza, ela confidenciou que é católica, mas por força maior e por causa de uma filha, acabou virando espírita e médium.
Ela deu os nomes de todos os santos que possuía e da sua importância para o Candomblé, como por exemplo: Nananpuruquê e Obaluaê, que na religião católica é tido como S. Lázaro.
Ainda no Farol de São Tomé, o grupo foi ao encontro do pai do cantor Zazal, o Sr. José Fernando Moço, 67 anos, conhecido pelos seus amigos como Fernando, ele infelizmente nos contou que o seu pai e avô de Zazal é que foi dançador de Mazurcas, Fados, Rancheiradas, Quadrilhas, etc. Ele contou que chegou a fazer parte do Solar do Colégio, mas não sabe dançar estas danças mais antigas. Nessa entrevista ele chegou a fazer citação a um personagem de Reis, o JAGUARÁ, que era o palhaço, e que teve um papel fundamental na mente das crianças daquela época. Segundo ele, era comum os pais assustarem as crianças mais levadas dizendo que se elas não se comportassem o JAGUARÁ viria pegá-las.
Em Santo Amaro, a zeladora da igreja de Santo Amaro, Cláudia Márcia Miranda Pereira, mostrou-nos a igreja que por ora encontra-se em reforma, principalmente nas salas laterais, onde outrora havia a sala de ex-votos. Dali ela nos levou até a residência de Maria da Conceição Ramos, 76 anos, que vive sozinha em uma residência na frente do campo, onde nos festejos de Santo Amaro, é realizada a Cavalhada. Ela nos contou que há 40 anos ela faz a roupa dos cavaleiros, tanto de uma equipe como de outra.
Em seguida o grupo se dirigiu até o Mosteiro de São Bento, mas fomos informados por algumas pessoas que não havia ninguém no Mosteiro.
Em Saturnino Braga, procuramos os responsáveis pela Igreja de Sant’Ana. E como o padre local havia tido problemas com a imprensa, no contato que tive com a zeladora, fui obrigado a mostrar a minha identidade estudantil, para comprovar que o nosso objetivo era meramente um trabalho para o Curso de Comunicação da Faculdade de Filosofia de Campos. Ao conversar com o esposo, ele finalmente aquiesceu e conduziu-nos até a Igreja, mostrando-nos que ela precisa de reformas, entre as poucas informações que ele nos prestou, ele informou que as imagens são originais do período da fundação da Igreja e conforme a placa de mármore afixada na entrada da Igreja, “D. Maria Queiroz Chrysostomo de Oliveira, beneficiou e reconstruiu a Capela em 26-07-1928”. Ele declarou que a capela foi feita por Francisco Reis, comerciante local, que possuía um cinema, e sua filha é quem tomava conta da igreja. Depois quando estava à frente da Usina, Finazinha Queiroz reformou e reconstruiu a capela.
Após esta visita, fomos ao encontro do Sr. José Monteiro, 84 anos, que trabalhou e se aposentou na Usina após 36 anos de serviço. Ele nos contou que a empresa se chamava Engenho Central Mineiros, depois é que se chamou Usina Mineiros. Esta usina pertenceu a Finazinha Queiroz, Silvio Marins e finalmente Fernando de La Riva.
José Monteiro nos contou que enquanto as peças da usina estavam em ótimo estado, à usina funcionava muito bem, mas como as peças começaram a das problemas e quebrar constantemente, os proprietários foram se sentindo desestimulados a continuar investindo na usina até que resolveram finalmente fechar a usina por volta de 1973, e ficar apenas com a Usina de Baixa Grande.
Este senhor, ainda confidenciou que toda a sua família trabalhou na usina, mas quando a usina fechou, o sindicato dos trabalhadores convenceram aos trabalhadores rurais para não irem para a Usina de Baixa Grande, pois eles corriam o risco de perder todos os direitos trabalhistas, afinal a Usina de Baixa Grande, era uma outra empresa apesar de ter o mesmo proprietário.
Sobre a igreja ele revelou que a santa padroeira da Igreja é Nossa Senhora de Sant’Ana, e a data de comemoração dos festejos é em 26 de julho, mas que os funcionários só queriam saber de comemorar a festa no dia 1º de Maio, dia consagrado a São José Operário.
Depois dessa entrevista, como já estava escurecendo o grupo então, já bastante cansado da longa maratona na Baixada Campista, resolveu encerrar mais uma expedição à Baixada Campista.

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