quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

11 - A Folkcomunicação

No Brasil, o jornalista e professor de comunicação Luiz Beltrão criou o termo folkcomunicação “para designar o conjunto de procedimentos e de intercâmbio de informações, idéias, opiniões e atitudes dos públicos marginalizados urbanos e rurais, através de agentes e meios direta ou indiretamente ligados ao folclore”. Conforme consta no livro “História do Pensamento Comunicacional”, do professor José Marques de Melo, p. 330.
Ele assinala (apud Beltrão), que o termo define o que,

“(...) é comunicação em nível popular, e por popular deve-se entender tudo o que se refere ao povo, aquele que não se utiliza dos meios formais de comunicação. Mais precisamente: folkcomunicação é a comunicação através do folclore.”

Enquanto alguns folcloristas acreditavam que o folclore era uma cultura parada e estática o pesquisador Edson Carneiro foi o único homem que percebeu o contrário e publicou isso no seu livro “A dinâmica do folclore” (Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1965). Esse livro acabou desagradando os folcloristas mais ortodoxos e mostrava uma realidade até então desconhecida dos principais cientistas sociais, a de que o povo utilizava-se apenas dos meios que lhe davam para manifestar os seus conhecimentos.
Além dele as autoras Marconi e Presotto (p. 36) afirmaram que:

“Todo sistema cultural está em contínuo processo de mudança que, a partir do contato com o mundo exterior, passa a ser estimulado e acelerado. A importância dos estudos aculturativos leva à compreensão dos problemas gerados modernamente pela aproximação entre os grupos humanos”.

Diversos são os meios utilizados pelo povo para manifestar o seu conhecimento, no interior do país, Marques de Melo (op. cit, p. 335), então exemplifica que:

“(...) as conversas de boca a boca feitas tanto à noite como de dia, nas farmácias ou nas barbearias, nas trocas de impressões provocadas pelas notícias levadas pelos motoristas de caminhão, pelos representantes comerciais ou caixeiros-viajantes, pelos bicheiros, pelos versos dos poetas impressos em pequenos folhetos vendidos nas feiras ou nas ruas, pelas batidas do “martelo” dos vendedores de doces ambulante, pelo raciocínio do homem que trabalha solitariamente na floresta, campo, caatinga ou coxilha que surgem como idéias e pensamentos e nos momentos oportunos são ditas e proferidas em rodas de amigos, em festas e bailes”.

A imprensa e os jornalistas de períodos remotos não davam importância a estas manifestações e também ao linguajar e dialetos proferidos pelas camadas mais baixas da população. O interesse da imprensa estava sempre calcado nos grandes temas e nas campanhas abolicionistas e republicanas brasileiras. Isso sem falar em fatos que não retratavam o cotidiano local.
Depois de ver seu trabalho de pesquisa mutilado pela censura, o professor Luiz Beltrão, assimilou algumas críticas que lhe foram impostas, principalmente o reducionismo jornalístico do seu trabalho, Marques de Melo (p. 341) conta como foi:

“Aconteceu que eu vi que a função da Comunicação não estava somente em informar ou orientar, estava também em educar, havia uma função promocional. Então eu comecei a aprofundar esses estudos e o resultado é que o conceito de folkcomunicação foi ampliado para não dar somente a idéia de que o povo utiliza a folkcomunicação para trocar notícias, mas sim para se educar. Dizer o que ele quer dizer, se promover e entreter-se também, divertir-se do mesmo modo que nós usamos o sistema estabelecido, o que chamei de comunicação social para uma diferenciação da comunicação folclórica”.

E assim, Luiz Beltrão (apud Marques de Melo) explica que:

“(...) a folkcomunicação é, por sua natureza e estrutura, um processo artesanal e horizontal, semelhante em essência aos tipos de comunicação interpessoal já que suas mensagens são elaboradas, codificadas e transmitidas em linguagens e canais familiares à audiência, por sua vez conhecida psicológica e vivencialmente pelo comunicador, ainda que dispersa”.

Isso faz com que os estudantes de Comunicação Social das diversas faculdades e universidades brasileiras, passem a estudar, realizar trabalhos de campo, e refletir teoricamente as aplicações metodológicas próprias da pesquisa e expandir a conceituação e a relação entre as manifestações da cultura popular e a comunicação de massa, incluindo a mediação realizada pelas manifestações populares na recepção da comunicação de massa, e a apropriação da tradição popular pelos mass media e a apropriação pela cultura popular dos aspectos da cultura de massa, bem como analisar o impacto da globalização e a permanência das tradições populares nas mensagens veiculadas pela imprensa nacional.

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