quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

17.3 - RETIRO – Aristides Joca em 15/07/2003

Nós podemos fazer umas imagens? (Marco Antônio)
Mas i... antigamente nós tinha aqui no salão e sempre a gente fazia a dança da comunidade, a dança do lugar, né? Dançava forró, dançava quadrilha, dançava essas coisas todas, era coisa muito importante, dava muita gente e eu mesmo sou marcador da quadrilha, né? Além dessas coisas. Mas depois que foi ultrapassando um pouco as coisas e a qualidade o pessoal foi mais arretirando, ... isseram mais, o salão também terminou ? aí o pessoal aí não viu mais o salão mas foi um pouco afastado mas ó só a comunidade, estivesse assim... um salão... aliás i eu estou aqui na Praia do Furado vou pra lá agora
Nós estivemos lá na tua casa (Rosália)
tiveram lá?
Ahan (Rosália)
Não acharam ninguém lá
Não, achamo... disseram que a gente encontraria o Sr.. Aliás disseram que o Sr. estava pra Campos (Rosália)
Não
Ou então, eu perguntei qual o melhor... onde a gente achava mais o Sr. aí disseram que era aqui no Retiro (Rosália)
Essa localidadezinha ali é minha, aquela casa. Eu que abroei quis abrir desapropriei aqui pra dá atravessá essa obra, eu sei que dei pra começar essa obra aí, que a comunidade precisa não é isso? Porque eu tenho seis filhos, então todos os meus filhos tão formados compreendeu? E a comunidade são gente muito boa gosto de todo mundo dei pra fazê aí pra vê se consta aqui também, tão intimência aí melhor...
O Sr. passou alguma coisa dessas danças pros seus pares e pros seus filhos, e seus netos? (Rosália)
Olha, a minhas filhas são tudo pra fazer quando é brinca, comigo.
Mas elas sabem cantar o Jongo? Sabem dançar a Mana-Chica (Rosália e Priscila)
Isso é dança dos antigos, geralmente é dança dos antigos, mas hoje é assim mela-xuxa um dia acaba tudo não é isso, ninguém é dança música pelado, ...dançando forró e coisa e tal.
Mas a gente vai reunir, pois então ó aqui ó, Seu Antônio de Zinho já tá reunindo lá uma porção de gente, entendeu? Vejo sanfoneiro com quem toca o tambor, ... vai reunir lá na casa do Seu Ivo. Sabe quem é Seu Ivo? (Rosália)
Sei, mais ou menos.
Então? E a gente conta com o Sr. pra dançar pra gente ir lá ver. (Rosália)
É mas se é pra aqueles lados, mais pra frente, a gente vai pra lá, porque antigamente não era aquela Chiquita Bacana, não? Era...
O patrão... tem aquela...

“Por isso estou chegando agora,
cabô qui no horário da Central
o trem atrasou meia hora
você tenha paciência de mandar embora”

Naquela época né...Já é a Chiquita Bacana que tudo que ouve. Quer dizer mas isso tudo tá acabado, tá tudo... as igreja tudo até hoje. Aqui também não sabe tudo não.
Mas aí.. (Rosália)
A gente era novo. Essas coisas era comigo mesmo.
A gente precisa de vocês justamente pra resgatar isso, você já imaginou se amanhã se eu levo forró pra escola, se amanhã nessa escola aqui é resgatada essa dança que o Sr. tanto dançou, o Sr. vê as crianças daqui dançando isso, é isso que a gente quer (Rosália)
Esse colégio foi inaugurado em 1974, aí esse colégio tava muito grande até a lei... trabalhei muito e eu fazia muita quadrilha pra... pras crianças, crianças estudo muito fora comigo aí, mas depois ficou desprezada, abandonada, as coisas mudam. Agora tão reformando, mas é minha sina marcar Quadrilha, meus filhos marcam Quadrilha, tudo isso... dançador.
Mais letras assim dessas danças, só essa, ou o Sr. mais alguma é versos? (Priscila)
Sim. Mais outros versos? (Paulo)

“Sinto uma dor no meu peito
só você poderia dar jeito
se alguém tiver conselho
pra você me abandonar,
Não, não podemos nos separar
Não vá me deixar por favor
Que a saudade é cruel
Quando existe amor
Não, não me diga adeus
Pense nos sofrimentos meus”

(...)

isso é do meu tempo, né? Do meu tempo, né? Hoje é tudo modificado, tudo mudou, coisa e tal, né? Mas eu vou aparecer lá...
Além da dança do Jongo, da Mana-Chica, aqui do Lanceiro, tem a Jardineira, tem o Canarinho, o Sr. sabe mais, mais...(Rosália)
Tem Manzurca, Manzurca tem duas partes, ... acho que é isso mesmo, tem Manzurca.
Tem mais alguma outra? (Rosália)

“Ô jardineira, porque tá tão triste?
Mas o que foi que aconteceu...(risos)”

Foi a camélia que caiu do galho. (Rosália)
“Caiu do galho...”. Naquele tempo era essa música mesmo, eu gostava disso, gostava, brincava, marcava Quadrilha, marcava Lanceiro, Lanceiro era meio burro... eu gosto dessas coisas toda. Mas a idade vai chegando e coisa e tal... Eu morei aqui nessa localidade aqui, muita gente, fazendeiro, de muito pouco trabalho, de muito gado, um dia chego...meus filhos. Meus filhos brincaram, meus filhos brincaram, me respeitavam, é isso aí. Quando ... comentava uma questão colégio eu dizia, se encontrar lápis no chão, não bota a mão, não é seu. Você panha, outro vê, fulano roubou meu lápis, as crianças... O filho mais velho meu, é o presidente da Embratel, não sei se vocês conhecem ele, vocês são de Campos, vocês?
Somos de Campos (Rosália)
Pois então, devem conhecer ele, é o Presidente da Embratel, Siciliano, é o presidente, o outro, Sidnei Ribeiro, ele trabalha há 20 anos no aeroporto, e é o radialista da Difusora, negócio de jogo, futebol, tudo é com ele, toda sexta-feira tá no jornal todos dois, eles ... jornal, né? Os meus dois filhos. Graças a Deus eles são, as quatro minha, são todas quatro são professoras, eu indiquei. Eu fiz tudo quanto é folia na vida, quando era solteiro, quando casei, casei pra quê, viver com a família, educar meus filhos, não é isso? Educar meus filhos, eu brincava qualquer coisa mas ... antes de chegar na família. Meus filhos são, são independentes, né? Você sabe que eu, faz quatro anos, que eu perdi a mulher, tô sozinho, porque é difícil até muito hoje em dia existe muitas coisas por aí, mas com a mulher, a gente, nós tinha entendimento entre um não brigava, as coisas era muito, gostava hoje e tava junto e o bonito nós tava junto... Agora porque a gente tá com a família, discutindo, vai barzinho, bebe umas cachaças fica discutindo com a mulher, brigando, ... não, nós tinha nossa conversa, naturalmente, eu tava com madame em casa, vou discutir mais pra quê? O que eu falei aqui pra ela no domingo, nós se intendia, nós se comunicava, e a mulher era tão boa comigo, que ela depois perdeu a vista, eu fui pra Nossa Senhora das Dores, em Cascadura, Doutor Raul Santolin, levei pra lá muito tempo, e o Doutor Raul disse pra mim, olha a infecção dessa vista vai passar pra outra, e passou. Mas ela gosta...sabia gostá muito de forró, não furava, nenhum dos bailes, ela dizia assim, ela na cadeira de rodas, sem enxergar nada, sozinha, dizia Alcides, vai um cadinho o baile lá, dança um cadinho, que eu espero, fico zangada com ocê, não! Tanto que era boa comigo. Isso é, ... não é? Ela dizia pra mim, vai lá dança um cadinho, mesmo assim eu não tô zangada não. Ficava me esperando na cadeira, então tenho muita amizade, muita consideração com ela, ela foi muito com os filhos, os filhos tão bom com ela, a gente ficou... Coisas passadas, não é? Porque hoje, ninguém tá ligando pra mais nada, não é? Hoje é tudo crente, né? A juventude está mudada, a juventude está muito mudada, coisa, mas eu tenho saudade daquele tempo, não é? Eu quando entro em lugar assim, eu entro na amizade, quando saio, fico com saudade. (risos)
Quando a gente arrumar pra dançar lá com Seu Antônio de Zinho, o Sr. vai então também, não é? (Priscila)
Vou
Ele vai conosco, lá falar com Seu Antônio, não vai? (Rosália)
Vou, vou, é, não, vou lá, que aí eu levo migo um tal de Acil, que gosta muito.
Isso! Ele falou o nome de Acil, também. (Rosália)
A gente vai lá. Vão lá, vamo lá ver o que se pode fazer, tá cedo.
Nós tivemos lá também na casa de Seu Acil, ele não tava. Seu Acil José Belo. (Rosália)
Acil José Belo, é, ele não tava. Mas o negócio então vai sê quando? Eu tô lutando, essa Prefeitura de Quissamã, não pode haver melhor para a localidade, dá tudo ao povo, viu? Se o camarada vai pescar, não pode pescar, têm um salário. Os velho tem meio salário, e tem um sacolão, um salário e um sacolão, entendeu? As criança ganha de tudo, entendeu? Se chamar um desses pra vim trabalhar na roça, eles dizem que na roça lugar de rato não vem ninguém, só rapaz de vinte anos. Que os pais ganha tudo. Ganha meio-salário, tem sacolão, tem tudo, não vem entendeu? Mas o prefeito fez tudo de bom, para o povo, mas não fez um clube da terceira idade, porque nós precisava, né? E a terceira idade não tem nada minha filha, se tivesse um clube da terceira idade lá, nós tava ... balão hoje...
Isso arrebenta isso (Rosália)
Se tivesse um clube da terceira idade lá nós tava sempre brincando, ...
E com isso os outros idosos também já dançaram Mana-Chica? (Paulo)
...Todos esses idosos já dançaram, isso é daquela época, mais de sessenta anos, todos eles brincavam essas coisas, né? ... brincavam essas coisas aqui.
E o Sr. sabe muitas letras da Mana-Chica... (Rosália)
Olha minha filha, se eu calmar um pouco e for cansar as coisas que tão mente, é capaz de botar as coisas no lugar mas assim muito assim, sabe como é, né? Que aqui, ter calma. Tudo né...
Mas é da vista é umas quatro de redação, redação é com mais calma fazer as coisa que interessa.
E o Sr. pode fazer isso pra gente? (Rosália)
Se eu traçar agosto e tive oportunidade, se eu lembra alguma coisa, é capaz deu fazer.
É porque, a gente vai tá envolvido nisso, aí o Sr. vai pensando, porque a gente vai tá lá com Sr. Antônio de Zinho, e quem sabe, vocês dois lá lembrando, aí... puder ir escrevendo pra gente, os versos, os cantos. Aí quando a gente...porque a gente...vai telefonar pra ele, entrar em contato, pra marcar o dia pra vir e aí já vai todos vocês reunido, porque tem que ver o violeiro, quem tem a sanfona... (Rosália)
Antão, vocês tão vendo aqui agora eu vou dizer:
“Amizade é como a flor que nasce numa semente, quanto mais trata, mais falta”, coração da gente, saudade no coração da gente.
Esse verso é de que tipo, do Jongo? (Paulo)
Esse verso é mais assim, das pessoas que gosta de um forró, qualquer coisa:

“Amizade é como a flor que nasce numa semente,
quanto mais o tempo passa
mais saudade esfria o coração da gente”

Sabe como é... (risos). É isso aí, eu sou desse jeito mesmo. Mas é... depois eu vou. Já que ocês tão assim procurando. Eu vou tê uma comunicação comigo hoje, espírito meu de luta pra ver se eu recordo alguma coisa daquela época pra ... se eu...
Recordar de alguma coisa importante, entendeu? De música, de dança, a gente quer aprender tudo isso (Rosália)
Quer mais recordação do passado.
É (Rosália)
Sim, ocês quer mais recordação do passado.
Isso, pra não deixar... seus netos saibam, que participem disso (Rosália)
Se houver uma oportunidade eu vou conversar com ... né. ... Vai comunicando com a gente não é isso?
Bom, mas a gente vai tá. O Sr. tem telefone que a gente possa entrar em contato com o Sr.?(Rosália)
O telefone tá em casa, mas não sei assim de cabeça não. Eu tenho telefone residencial mesmo, lá na praia. ... Tem tanto telefone, as criança, cada filho tem um telefone em Campos, coisa e tal, eu nem sei de cabeça, não? Eu tenho um caderninho, né? Mas não tá comigo não. Sabe? Tivesse comigo...
É mas a gente tem aqui o do Seu Antônio de Zinho. Aí a gente entra em contato com ele. (Rosália)
Aí eu não sei cabeça de telefone. Meu telefone é residencial, lá em casa eu tenho.
Que até a água eu perdi a sanfona, ... feito craque, feito craque, feito era beleza. Você sabe que nós tava dançando era Fado também, né? Nós ... gostava de Fado, ..., Zezé gostava de Fado, rapaz! Que isso! Sacudia o pé, batia o pé no chão, que parecia uma coisa louca.
Sr. Zé Heitor, o Sr. conhece? (Rosália)
Zé Heitor.
Manuel dos Anjos?
Mas esses são lá de Bananeiras, Zé Heitor não é daqui.
Goitacazes (Rosália)
É de lá daqueles cantos de lá, é, é de lá.
Ele dança o Lanceiro (Rosália)
Acho não sei
O Sr. dança o Lanceiro? (Rosália)
Dan... Ah! Minha dança era isso.
Como é que se dançava o Lanceiro? (Paulo)
Hem? Lanceiro é quatro
Mas, tem alguma coreografia, especial? (Paulo)
Tem, tem, mas o Antônio de Zinho sabe. Eu marco muita Quadrilha, o Lanceiro eu dancei muito, mas ele que marca, eu nunca marquei Lanceiro, não. Entendeu? Deixa vê que mais. Quando ele grita lá, eu já sei o que eu tô fazendo, que eu sou dançador, mas não sou marcador, entendeu? Meu negócio era Quadrilha, né? Antônio de Zinho marca.
Vamo dança, vamo dança junto na festa? (Priscila)
Vamo aprende muito (Rosália)
Vocês vão tá lá no dia do Forró?
Nós vamos, pra marcar, pra gente ir, pra gente gravar vocês, filmar vocês (Rosália)
Eu moro aqui na praia do Farol não vô leva dama não! Chega lá... (risos)
Eu quero aprender! (Rosália)
(risos)
É isso mesmo! Mas lá, nós vão encontra lá, se Deus quiser. Mas Antônio de Zinho, falou comigo nisso que tinha lá esse negócio lá, que ele ia mandar me chamar, ele falou isso comigo. Aqui se tivesse aqui o salão aqui, eu ia fazer aqui na terceira idade, ia fazer um clube bom aí, aqui marcava um dia com ocês, combinava. Mas não temos salão, não!
Mas o Sr. Antônio falou pra gente fazer na casa do Sr. Ivo (Rosália)
Seu Ivo?
Ivo. É ali vizinho dele (Rosália)
Seu Antônio, cá?
É vizinho de Seu Antônio de Zinho (Paulo)
Mas o Antônio de Zinho de cá.
É! Disse que é pra gente fazer na casa do Seu Ivo, que é mais a frente um pouquinho (Rosália)
É eu sei, mas vocês podia fazer lá e podia fazer outro aqui se tivesse o salão.
Sim, mas o primeiro a gente faz lá, porque aí... (Rosália)
Primeiro tem que ser lá, se não ...
Aí depois... (Rosália)
Depois nós tivesse salão, combinava outro pra aqui.
Isso (Rosália)
Então Ivo vinha, Antônio de Zinho vinha, chamava o pessoal de mais idoso, pra nós fazê essas coisas aí. Mas é bom.
Tá bom assim? (Rosália)
Me diz uma coisa, quando que é a festa de São Martinho? (Paulo)
11 de novembro, dia onze. Vai ter festa aqui no Furadinho, dia... sete do mês que vem. Nossa Senhora da Boa Morte.
Normalmente há alguma dança dessas que a gente tá comentando? (Paulo)
Olha, pode não haver nenhuma dança dessa, mas pode sair também, né. Porque já arranjaram lá negócio lá, arranjaram músico tudo pra fazer um forró lá. Mas hoje atualmente, tem mais forró, porque o pessoal mesmo, dessas dança antiga, essas senhoras, coisas antigas, quase não existe mais, compreendeu? Hoje... meninada quer forró, né? Quer pular, forró, hoje essas danças antigamente quase não se dança mais, não. O Antônio de Zinho, assim ... outro ainda dança... A gente não tá vendo, desde que o dia tá vem, então a gente tá vivendo ainda, né isso? Deus está vivendo com a gente, a gente ainda dança ainda.
Vocês se reúnem assim regularmente pra poder dançar? (Paulo)
As vezes, quando tem essas coisas assim uns convidam outro. Uns convida outro, nós participa, sabe como? Mas antigamente, essas danças curtia só isso, as molecada tudo sabia dançar isso, ensinava até a gente, se a gente não soubesse. Mas esses... já sairam, tá casado, domesticado, hoje a mocidade é outra, né? A vida é outra, né? Não é mais aquela que a gente vivia.
Então vão. (Rosália)
Mas, ficamos assim.
Ficamos, a gente vai entrar em contato ...(Rosália)

Um comentário:

Unknown disse...

Por favor, Retiro antigamente, tinha outro nome, qual era? Alguém sabe me informar? Era como esse lugar, suas crenças, quem eram as pessoas que la moravam, viviam de que, havia rscola, tinha saude...?
Eu gostaria muito de me informar, por favor, me ajudem? Obrigada, Cris!