quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

9 - As Cerâmicas

O crescimento do maior pólo cerâmico do estado, situado na Baixada Campista, com 104 indústrias, empregam cerca de 6 mil pessoas com o salário médio de R$ 350,00. É conseqüência do esvaziamento da agroindústria açucareira. Devido à baixa remuneração da cana, parte dos proprietários rurais passou a investir em olarias, a partir do início dos anos 90. Antes desse período, existia em Campos pouco mais de 50 cerâmicas.
A mão de obra mantida pelas extintas usinas da Baixada também foi absorvida pelo pólo cerâmico. O setor hoje é responsável pelo crescimento de localidades que antes não contavam com melhorias como supermercados, açougues e farmácias. O subdistrito de Goytacazes, por exemplo, exibe um comércio mais forte do que a maioria das cidades do Norte Fluminense.
O processo de construção de telhas e tijolos é antigo. Amaro da Conceição de Souza, presidente do Sindicato dos Ceramistas de Campos, diz que a profissão tem suas raízes na cultura indígena.

“Os índios já faziam telha canal, no processo todo artesanal, as telhas eram moldadas nas cochas da perna. Nas olarias todo o trabalho era manual, o sistema de produção tinha o auxilio de animais para fazer a queima. A modernização das olarias são as cerâmicas, com a produção elétrica”.

No distrito de São Sebastião a atividade existe há mais de 80 anos, com tijolos maciços e telhas francesas. Na realidade, a cidade de Campos não absorve nem 5% de toda fabricação de suas cerâmicas, os 95% são vendidos nos mercados do Espírito Santo, São Paulo e Minas Gerais. O setor movimenta por ano 130 milhões.
Só que toda essa estabilidade não está sendo capaz de superar uma crise que já se estende por 11 meses, considerada a mais grave nos últimos 30 anos. O custo do gás e a retração do mercado agravaram a situação. Por falta de pedidos, boa parte do parque cerâmico não tem mais espaço físico para estocar tijolos, que já somam 30 milhões de todas as indústrias, o que tem levado os ceramistas a remanejarem empregados para outras atividades. É o que comenta Amaro:

“Tijolo hoje não tem preço em Campos. Depende da situação do ceramista. Se ele tem conta de luz vencida ou está sem dinheiro para pagar os empregados, o poder de barganha é mínimo, ele acaba vendendo o seu produto por qualquer preço”.

De acordo com o presidente do Sindicato dos Trabalhadores das Cerâmicas, José Francisco de Souza Azeredo, o desemprego deve começar a aumentar. Do início do ano até agora 600 trabalhadores foram demitidos.

“A maioria desse pessoal veio da lavoura, mas é um trabalho que dura apenas alguns meses. Depois vão ter que fazer biscates ou se virar com o seguro desemprego”.

A única alternativa encontrada pelos empresários está num projeto de lei já sancionado pela Câmara Municipal e aprovado pelo prefeito do município Arnaldo França Viana, o projeto prevê que a prefeitura use recursos dos royalties do petróleo para cobrir 40% dos gastos das indústrias de cerâmica com gás natural combustível. O autor é o vereador Nildo Cardoso, também ceramista que está assustado com a proporção que a crise se encontra.

“Apenas 18 cerâmicas (15% do total) trabalham com gás natural na Baixada. Por isso o projeto servirá de estimulo para outras indústrias, padronizando e qualificando os produtos. Não queremos chamar a atenção, mas a situação tende a se agravar”.

A primeira vítima da crise foi a Cerâmica Primeira, especializada na fabricação de telhas e uma das maiores do município, paralisou suas atividade no dia 1 de outubro, demitindo 150 empregados e o encerramento temporário de suas atividades. O proprietário Jorge Pesce lamenta por demitir os funcionários mas não enxerga outra saída:

“A falta de incentivo para construção civil acertou em cheio o setor. É muito difícil você ter que chegar para um funcionário que está com você desde o início da empresa e ter que demiti-lo”.

O que resta agora para os empresários e funcionários que ainda trabalham no setor é esperar que os governos municipal e federal de alguma forma superem a alta de juros e ajudem a subsidiar o gás natural. “Temos que ter esperança”, finaliza Amaro.

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