quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

8.1 - Baixa Grande

O primeiro dono da usina de Baixa Grande ou “Companhia Açucareira de Santo Amaro” foi Dr. Dudley Barros Barreto26, como todas da região, começou como um simples engenho até expandir-se na construção da usina. Quando estava com idade mais avançada, vendeu o parque industrial para Fernando de La Riva, um cubano, que veio se instalar no Brasil. Sob domínio desse estrangeiro, a usina prosperou durante muitos anos e chegou a ter mais de 6 mil empregados em toda a região.
Amaro Ribeiro Filho, 77 anos, trabalhou 49 anos naquele parque industrial como tratorista. Entrou em 1936, quando tudo era, ainda, um pequeno engenho. Amaro lembra do apogeu e também de como ficaram as famílias da Baixada sem essa fonte de emprego, depois da falência.

“Alguns equipamentos foram arrancados e vendidos para São Paulo. Naquela época era o único meio de vida da população e, com o fim, o desemprego também chegou. Muitas pessoas foram embora. Como não quis acompanhar, por causa da família, resolvi abrir um pequeno armarinho”.

Além do engenho havia uma fábrica de papel, na época de Barros Barreto. É o que lembra o ex-funcionário Lourival Quintanilha de Freitas, 71, aposentado há 15 anos. Ele mora de maneira tranqüila por causa da aposentadoria, não tendo que recorrer a outro tipo de ocupação para a complementação salarial.

“Foram anos bons trabalhando na usina, não tenho nada a reclamar dos patrões. Eles eram bons e pagavam em dia o salário. Minha família toda vivia do trabalho que era oferecido por lá e foi assim que sustentei meus filhos”.

A história dos cubanos, segundo o ex-empregado da administração, Nilson Roberto da Silva, impressiona pelo espírito empreendedor. “O pai, Fernando Edmundo de La Riva saiu de Cuba, por causa da revolução de 1959, deixou para trás quatro usinas, dois hotéis e vinte fazendas. O livro “História Moderna e Contemporânea”, de Alceu Luiz Pazzinato e Maria Helena Valente, p. 322, conta um pouco desta época.

“Após a Guerra da Independência (1895-1898), Cuba tornou-se um protetorado dos Estados Unidos, quando a Constituição de 1901 aceitou a Emenda Platt, que conferiu o direito de intervenção aos norte-americanos. Insatisfeitos com tanta submissão os filhos da terra começaram uma conspiração contra os americanos, depois de seis anos de guerrilha os rebeldes tomaram Havana. Uma das primeiras medidas foi estabelecer a reforma agrária inclusive em propriedades. Os chamados Mister não querendo repartir seus bens fugiram de Cuba”.

Esse foi o caso do patriarca da família De La Riva. Quando saiu de Cuba, foi direto para o Estado da Florida, nos Estados Unidos. Fez uma sociedade com Henry Ford, dono da Ford, para construir a usina Talismã. Quando todo parque industrial estava montado e a plantação de cana pronta para colher, uma geada destruiu toda plantação. Nilson Roberto da Silva, trabalhava na administração da usina de Baixa Grande e sabe contar essa história.

“De La Riva foi primeiro para o nordeste. Envolvido com cana desde Cuba sabia quem procurar na região. Foi através desse conhecimento que chegou até Campos e montou seu patrimônio. Depois de muitos anos gerando empregos e tendo muitos lucros o negócio passou por crises e chegou ao fim. Hoje, com 66 anos, Fernando De La Riva aguarda na justiça a posse das suas terras ocupadas pelo MST. Mora no apartamento da sogra, em Copacabana, no Rio de Janeiro”.

O antigo parque industrial da usina de Baixa Grande está tomado pela ferrugem e para pagar os últimos funcionários que recorreram pelos seus direitos na Justiça, “algumas peças industriais estão sendo tiradas e vendidas para usinas de São Paulo”, informou.
26 Dr. Dudley chegou a montar uma fábrica de papel a partir do bagaço da cana de açúcar. Os investimentos, contudo, não compensaram e o projeto acabou indo à falência, desempregando centenas de trabalhadores.

Um comentário:

Rondinelio disse...

parabéns pelo artigo. quando criança eu ia com meu pai pegar açúcar na usina em uma carroça, e o barulho que a usina fazia era ensurdecedor...o cavalo empacava e não passava nem a pau.já fui muitas vezes de baixa grande a olhos d'água a pé. hoje moro no rio e quando vou a campos visito minhas tias em baixa grande e sempre me recordo daquele tempo. tenho saudades, pois eramos crianças e inocentemente viviamos com alegria...
hoje o mundo moderno nos dar muita coisa, inclusive a internet, quem diria eu esta aqui comentando neste artigo.