quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

12 - Os índios goitacazes

Nesse projeto e trabalho de pesquisa sobre “A Recuperação das Reminiscências Culturais dos Aceiros de Canas da Baixada Campista”, fomos em busca dos fragmentos culturais perdidos pelo tempo e pelo espaço, de uma cultura que sucumbiu a tecnologia de informação e ao esquecimento por parte das novas gerações, que na ânsia de buscar e se aprofundar nas coisas do novo tempo, deixaram para trás a diversidade e a riqueza cultural de um povo, e porque não dizer, a história do próprio povo campista.
No desejo de relatar quaisquer pesquisas sobre Campos e seus arredores, o pesquisador acaba voltando no tempo e procurando relatos sobre a tribo de índios goitacazes, que aqui existiam. Porque, quer queiram ou não, parte da cultura popular que ainda hoje existe nada mais é do que fragmento de histórias, linguagens, jeitos e trejeitos dos descendentes daquela tribo de índios. Pois segundo relatos de pesquisa do campista Alberto Lamego, os goitacazes não viveram apenas na Baixada Campista, mas, também em toda a planície.
De acordo com Alberto Ribeiro Lamego, no livro “O homem e o brejo”, pg. 73, e descrito por Simão de Vasconcelos, há uma grande diversidade de denominações que os cronistas colheram à margem de suas terras, dentre as palavras foram descritas as seguintes denominações: Goitacá, Guaitacá, Guatahar, Goitacaz, Guiatacás, Ovaitagnasses, Ouetacá, Waitacá, Eutacá, Aitacaz, Itacaz e Uetacaz.
Nesse mesmo livro o autor faz referências as classificações e as posições quanto à tribo de índios e a importância que alguns estudiosos deram, colocando-os como gente brava e comedora de gente, além de serem exímios nadadores. Isso sem falar que são tidos como excelentes corredores.
De acordo com esses relatos, o índio goitacá vive nu, como a maioria dos índios de outras tribos, mas que mantêm os seus cabelos compridos até a cintura, tonsuram o cabelo na frente e o cerceiam na nuca além de serem altos e fortes. Entre outros costumes, o pesquisador Alberto Ribeiro Lamego conta em seu livro “O Homem e o Brejo”, p. 76, que os índios goitacazes:

“Dormem no chão, sobre folhas, porque não tinham redes nem cama, nem enxoval, porque toda a sua riqueza consistia em seu arco. Seu modo de viver era pelos campos, caçando as feras; e pelas lagoas, rios e costas do mar pescando o peixe, e em uma e outra arte eram insignes”.

Já o “Novo Dicionário Aurélio”, publicado pela Editora Nova Fronteira, p. 1398, define a palavra tonsurar como:

Do lat. tonsura – Ato ou efeito de tonsurar. Corte circular, rente, do cabelo, na parte mais alta e posterior da cabeça, que se faz nos clérigos; cercilho, coroa.

Ainda no livro “O Homem e o Brejo”, de Alberto Ribeiro Lamego, na página 76, há uma contradição nos relatos de João de Léry e Simão de Vasconcelos, enquanto o primeiro relata que o goitacá é um comedor de carne humana como um cão e um lobo, o segundo relata que os índios “senhores das lagoas, dos córregos e do Paraíba, só bebiam água de cacimbas e enterravam seus mortos em igaçabas. O mesmo dicionário, em sua p. 744, mostra que:

Igaçaba – (Do tupi iga´sba, “lugar onde a água cai) – Pote de barro, geralmente de boca larga, para água e outros líquidos, ou para guardar farinha e outros gêneros. ..Urna funerária dos indígenas, camotim: “As urnas funerárias de barro (igaçabas), lisas, de forma globular assentada em fundo cônico, de paredes grossas de um dedo, sem ornamentação gravada ou pintada, arrumadas e enterradas em linhas paralelas no terreno raso, marcavam, na face do solo, inúmeros círculos (Raimundo Morais, País das Pedras Verdes, p.282) (Var. gaçaba).

Mas o que nos remete a esta pesquisa e ao fundamento dos nossos trabalhos é também a cor da pele dos goitacazes, segundo relato de Gabriel Soares, publicado no mesmo livro, p. 76, o índio goitacá possui a cor mais branca do que a dos índios tamoios, tupiniquins e papanases. Já Couto Magalhães relata (p. 74) que, “os goitacás, altos e claros ficam a margem dessa classificação hoje abandonada”.
Mesmo com essas contradições em relação a cor da sua pele, os pesquisadores e cronistas de época nos informaram na mesma obra (p. 76), que os goitacás:

“(...) viviam em choças de palha, fundadas cada qual sobre um esteio de pau metido na areia, por mor segurança do seus contrários, cercados sobretudo de matas espessas, rios e charcos inacessíveis”.

O significado disso é que provavelmente seja este o motivo dos nossos índios serem tão temidos, pois quando se viam em constante perigo, corriam não pelas matas espessas, mas sim pelos descampados até alcançarem a nado as suas choças paliçadas sobre o leito das lagoas. Em locais de difícil acesso para os seus inimigos, desconhecedores das cercanias e dos arredores dos esconderijos dos índios e, portanto, ficavam assim, a mercê das flechas certeiras dos goitacás.
Com a diversidade dos ataques feitos pelo homem branco, a nação goitacá sucumbiu e foi dizimada, mas é certo que ainda assim, parte de sua cultura foi transmitida para o homem branco, por alguns índios que foram domesticados e acabaram convivendo com os descendentes dos Sete Capitães.

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