quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

16.7 - Relatório da 7ª Expedição à Baixada Campista

Aos seis de setembro de 2003, sábado, às 7 horas e 30 minutos, os alunos do Curso de Comunicação Social, envolvidos no Projeto do Mestre e Professor Orávio de Campos Soares, cujo título está descrito acima, realizaram a sétima excursão. Dessa feita o objetivo foi o de realizar pesquisas no outro lado do rio Paraíba, nas localidades de Outeiro, Sapucaia, Parque da Aldeia, Morro de Fátima, Custodópolis e Parque São Matheus.
Nesta sétima expedição, o grupo foi para Guarús com Priscila da Silva Gonçalves, Rosália Maria Moreira, Paulo de Almeida Ourives, Andresa Alcoforado, Michelle Barros dos Santos, Raquel Correia de Freitas, Marco Antônio Lourenço, e o cinegrafista Osiel Azevedo.
Após atravessar a ponte General Dutra o grupo seguiu para o bairro de Custodópolis, onde fomos ao encontro de Milton Nascimento, mais conhecido como “Neguinho”, após uma pesquisa o encontramos, ao entrevista-lo ele confessou que seu nome verdadeiro é Milton Ribeiro Nascimento, 58, e hoje é evangélico. Ele nos disse que nasceu no Parque Queimado, no local conhecido como São Caetano Velho, mudou-se para Custodópolis e já encontrou um grupo de Jongo onde começou a participar e tocar. Ficou 20 anos tocando com o grupo, dançava e fazia alguns versos, mas depois o grupo passou a acompanhar o samba. Ele informou que há mais de vinte anos que não toca e nem vê uma apresentação de Jongo. E que em um aniversário da Escola de Samba União da Esperança, houve uma apresentação de Jongo. De Custodópolis, nascedouro desta dança, o Jongo foi levado para o Parque Santa Rosa, e lá tiveram os seus expoentes, Dodô “Tomazinho” e Neco “Bode Preto”. O trocador aposentado da antiga CTC declarou que o Jongo era cantado e jogado com ar de deboche e provocação e tem muito a ver com a macumba.
Sobre a sua vida pessoal, “Neguinho” declarou que atualmente é casado pela 2ª vez e há oito anos, com Eliane Ribeiro Nascimento. Teve onze filhos no primeiro casamento e atualmente tem cinco filhos, já possui 21 netos. Questionado sobre a hereditariedade das informações da dança para os filhos, “Neguinho” falou que o seu filho mais velho chegou a ver as apresentações de Jongo, mas que, nenhum deles quis aprender e prosseguir mantendo a tradição.
A respeito das apresentações e encontros de Jongo, ele informou que eram realizadas nos finais de semana, mais precisamente aos sábados e domingos na Avenida do Cabo Baiano, que fica em frente a uma creche. Ele contou que o cabo cedia o espaço e ainda acredita que tenha sido o Cabo a trazer o Jongo para Custodópolis, mas que esse mesmo Cabo morreu há quase 30 anos e não conheceu ninguém da família dele.
Milton Nascimento ainda informou que os versos eram feitos de improviso e a maioria das pessoas gostava e participava do Jongo. Sobre a sua vida na Usina do Queimado, ele contou que já cortou cana por 14 anos e acabou aposentado como cobrador de ônibus da CTC, onde trabalhou por 17 anos. Sobre a sua relação com a Escola de Samba União da Esperança ele contou que já fez muitos sambas.
Após esse encontro, fomos até o Parque Santa Rosa, a procura de Dodô “Tomazinho” e Neco “Bode Preto”, mas as buscas foram infrutíferas, pois fomos informados que ambos havia falecido.
Como já estávamos nas imediações do Morro de Fátima procuramos por Creuza Batista Alves, filha de Maria Anita, uma das maiores jongueiras de Campos, curiosamente já estávamos na rua onde ela mora. E após as apresentações fomos convidados a entrar em sua residência onde ela nos contou tudo o que desejávamos sobre a sua mãe e sobre o Jongo.
Ela nos informou que é a filha caçula de Maria Anita, e possui 42 anos. Sobre o Jongo, ela disse que sua mãe tinha um bar onde vendia peixe e outros petiscos e para animar os clientes ela passou a tocar Jongo em seu bar. Sua mãe como jongueira, chegou a ter um grupo de dançarinos que se apresentavam em diversos lugares, inclusive na Tijuca, Rio de Janeiro.
Curiosidade à parte, Maria Creuza revelou que a sua mãe foi a primeira mulher a vestir calça comprida e era chamada de “Mulher-Macho”. Segundo ela, Maria Anita nasceu na Fazenda Bangazal, em Tócos, e seu pai dançava Fado. Quando se casou, Maria Anita mudou-se para Campos, e as rodas de Jongo eram realizadas no terreno ao lado da casa com mais dez componentes, mas a maioria dos participantes era da própria família. Maria Creuza, ainda informou que até hoje ainda mantém contato com os antigos participantes do grupo. Sobre o estado do tambor, ela disse que ele está sem o couro.
A fama do Jongo realizada pelo grupo de sua mãe era tão grande que o escritor Osório Peixoto e a irmã do atual prefeito, Magdala França Vianna, iam assistir as apresentações do grupo.
Maria Creuza nos contou que sua mãe teve cinco filhos, mas um deles morreu em 1986, e um ano antes falecera o seu pai. Para Maria Creuza a diferença do Jongo é que ele era dançado sozinho. E na época em que sua mãe ainda estava viva ela contava histórias do tempo da escravidão, das mulheres de saia de chita e pés descalços.
Maria Anita deixou cinco filhos, e atualmente o grupo de Maria Creuza não se apresenta porque todos eles precisam trabalhar para sobreviver. Finalmente ela contou que seu irmão, Rosenildo é quem bate o tambor do Jongo.
Depois desse encontro fomos até o Parque São Matheus, e encontramos a rezadeira Cinira Loreno da Silva, 74 anos, que inicialmente nos informou que reza desde os sete anos de idade. Indagada sobre a sua religião ela nos informou que é católica e recebe a entidade denominada “Preto Veio”, mas que para fazer a reza e gravar era necessário que fôssemos a sua residência após às 16 horas.
Desse encontro o grupo resolveu fazer uma parada para almoçar e depois prosseguir com destino a Outeiro, Sapucaia e adjacências.
Em Outeiro, encontramos com Eliseu Francisco, 77 anos. Ele nos contou que foi jongueiro e puxador de músicas. Ele nasceu em São José Paraíso, trabalhou na Usina Outeiro como ajudante de cabo de fogo na caldeira e já se aposentou. Ele ainda contou que já ensinou a arte e a tradição do Jongo aos seus amigos e vizinhos e sobre a Folia de Reis e a Dança de Reis, ele não soube nos informar a diferença.
Ele começou a dançar o Jongo em Santa Cruz, mas infelizmente hoje com a morte de alguns companheiros, o Jongo foi morrendo, o tambor apodreceu e não há couro para tocar. Em época recente ele ia até Cardoso Moreira para dançar e tocar o Jongo. Nessa conversa ele nos disse que a atual esposa do prefeito de Cardoso Moreira, Regina, esposa de Gilson Siqueira, possui dois tambores. Atualmente ele reside na Fazenda Taquaraçu, Vila Dois, e a partir da falência da Usina a residência onde mora é dele.
Na mesma localidade, encontramos com um Sr. conhecido como Colodino, mas que na verdade o seu nome é Claudino Pereira de Souza, 76, foi nascido em Juiz de Fora, e só conheceu o Jongo aqui. E hoje ele não dança porque não existe mais o Jongo, e hoje tem um problema no joelho e não pode fazer uma misura. Ele atualmente é viúvo e mora com o filho. Na usina ele trabalhou como empilhador e conseguiu a sua aposentadoria há 10 anos. Confessou entre outras coisas que já dançou a Mazurca, o Lanceiro, a Mana-Chica e a Quadrilha, mas que o tambor hoje é tido como cafona. Ele informou também que essas danças tinham uma época pré-determinada. E finalizou dizendo que hoje o Jongo seria um divertimento para os mais velhos e motivo de riso para os mais novos.
Depois desse encontro fomos até o Parque Aldeia, encontramos com Geraldo Fernando, 65, que nos informou ter presenciado as batidas do Jongo em seu bar, mas que nunca jogou ou cantou juntamente com os outros jongueiros.
Como já não havia mais nada a ser pesquisado todos os integrantes do grupo compreenderam que hora de encerrar mais uma expedição à Baixada Campista.

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