quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

10 - O estudo do Folclore

Ao pronunciar a palavra folclore (folk = povo; lore = conhecimento, saber), pela primeira vez em 22 de agosto de 1846, o arqueólogo inglês William John Thomas, queria explicar que o homem além de ser um ser social, transmite o seu conhecimento através das gerações, não apenas dos seus pares, mas também de todos aqueles que passam a conhecer e conviver com as mais diferentes formas culturais do povo.
No livro “Antropologia uma Introdução”, publicado pela Editora Atlas, em 1985, na página 27 as autoras Marina de Andrade Marconi e Zélia Maria Neves Presotto definiram o folclore como:

“Um dos campos de investigação da Antropologia Cultural, definindo-se como o estudo da cultura espontânea dos grupos humanos rurais ou urbanizados. É uma ciência sócio-antropológica, uma vez que se dedica ao estudo de determinados aspectos da cultura humana. Preocupa-se com os fatos da cultura material e espiritual que, originados espontaneamente, permanecem no seio do povo, tendo determinada função”.
“O folclore, sendo uma disciplina autônoma, tem seus próprios métodos e técnicas de pesquisa científica. Estuda os fenômenos em sua dimensão espacial e temporal. Mesmo gozando esta autonomia, e considerado ramo da Antropologia, pela identidade de interesses (o homem e a cultura) desses dois campos de conhecimento”.

Ao longo do tempo, com a evolução da humanidade e a busca por melhores condições de vida em novos lugares, o homem também leva o seu conhecimento e o modifica de acordo com as condições do novo habitat e, assim a cultura popular acaba se notabilizando pelas mudanças e porque não dizer também, pelas perdas culturais quando os jovens no seu desejo de buscar algo novo esquecem parte dos conhecimentos e das informações que foram transmitidas pelos seus antecessores.
Para isso o pesquisador também precisa compreender o meio em que vive e passa a aplicar os conhecimentos, os conceitos e a aplicabilidade da etnografia. Marconi e Presotto (op. cit. págs. 25 e 26), salienta:

“A etnografia (ethnos, povo ; graphein, escrever) consiste em um dos ramos da ciência da cultura que se preocupa com a descrição das sociedades humanas. Lévi-Strauss (1967:14) define-a de modo mais preciso e objetivo. Para ele, a etnografia “consiste na observação e análise de grupos humanos considerados em sua particularidade (freqüentemente escolhidos, por razões teóricas e práticas mas que não se prendem de modo algum à natureza da pesquisa, entre aqueles que mais diferem do nosso), e visando à reconstituição, tão fiel quanto possível, da vida de cada um deles.
O objeto de estudo da etnografia centra-se nas culturas simples, conhecidas como “primitivas” ou ágrafas. São grupos humanos que se opõem às sociedades complexas ou civilizadas. Também estas podem constituir-se em foco de atenção do etnógrafo, como por exemplo, o interesse no estudo de sociedades rurais. As sociedades simples, encontram-se, ainda hoje, espalhadas pela terra, cada uma desenvolvendo uma cultura específica. Algumas já desapareceram; outras estão em contato com o mundo exterior, em processo de mudança; poucas se conservam isoladas”.

Da mesma forma que a humanidade caminha, os aspectos culturais desses mesmos povos passam a ser transmitidos de geração em geração. Mas nesse contexto vale frisar que poucos são aqueles que procuram resgatar as suas raízes e os aspectos e fragmentos culturais populacionais que se perderam no tempo e no espaço.
Mas é necessário também buscar na etnologia a compreensão e o entendimento de como estas formas culturais foram transmitidas e reprocessadas. Depois (pg. 26) anuncia:

“A etnologia (ethnos, povo; logos, estudo) é outro ramo da ciência da cultura, cujos pesquisadores utilizam os dados coletados e oferecidos pelo etnógrafo, eminentemente comparativa, preocupa-se com a análise, a interpretação e a comparação entre as mais variadas culturas existentes, considerando suas semelhanças e diferenças. Enfatiza as inter-relações de homem e meio-ambiente, indivíduo e cultura, na tentativa de compreender a operosidade e mudança das mesmas.
Segundo Lévi-Strauss (1967: 396), “etnografia, etnolo-gia e antropologia não constituem três disciplinas diferentes ou três concepções diferentes dos mesmos estudos. São, de fato, três etapas ou três momentos de uma mesma pesquisa, e a preferência por este ou aqueles destes termos exprime somente uma atenção predominantemente voltada para um tipo de pesquisa que não poderia nunca ser exclusivo dos dois outros”.

E prossegue a narrativa (pgs. 27/28).

“(...) o indivíduo não é visto como um simples receptor e portador de cultura, mas como um agente de mudança cultural, desempenhando papel dinâmico e inovador. Ele incor-pora, através do processo de endoculturação, características próprias do grupo em que vive, adquirindo uma personalidade básica. Como participante de uma sociedade e de uma cultura, a pessoa é portadora de caracteres constitucionais (biopsico-lógicos) e de experiência sócio-cultural próprios. Isso lhe confere um tipo de personalidade que vai determinar ações e reações, pensamentos e sentimentos, enfim, o seu comporta-mento na busca de melhor adaptação aos valores sócio-culturais do grupo”.
“Indivíduo, sociedade e cultura, são três aspectos inter-relacionados, indispensáveis na análise do comportamento humano”.

Só assim para compreendermos a importância da cultura de um povo ou de uma região. Mas o que é cultura? Como ela é transmitida? Marconi e Presotto (pág. 59) informam que:

“A cultura é criada, aprendida e acumulada pelos membros do grupo e transmitida socialmente de uma geração a outra e perpetuada em sua forma original ou modificada. Os indivíduos aprendem a cultura ou os aspectos da cultura no transcurso de suas vidas, dos grupos em que nascem ou convivem. Dessa maneira, ela é compartilhada por todos.
A cultura é dinâmica e contínua, em virtude de estar constantemente se modificando, face aos contatos com outros grupos ou com suas próprias descobertas e invenções, ampliando, dessa maneira, o acervo cultural de geração em geração. Varia, portanto, no tempo e no espaço”.

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